O documentário "Bolsonaro e Adélio - uma facada no coração do Brasil", feito pelo repórter investigativo Joaquim de Carvalho, pelo cineasta Max Alvim e pelo cinegrafista Eric Monteiro, com produção da TV 247, financiamento coletivo de seus assinantes e apoiadores deu o que falar no mercado de mídia nacional, a imprensa tradicional repercutiu e tentou partidarizar a produção.
No entanto, uma coisa precisa ser dita: Joaquim de Carvalho desmontou a tese de que Adélio Bispo era um militante de esquerda, e deixou no ar uma série de dúvidas a respeito das investigações da Polícia Federal sobre o caso. Outro ponto que precisa ser analisado é — porque a imprensa — mesmo depois do documentário, insistir em não colocar em cheque a versão do 'Adélio de esquerda', sobretudo continuar sustentando essa versão?
O filme, de uma hora e 44 minutos, demonstra, com riqueza de detalhes, todas as — inconsistências da história oficial — que vem sendo contada aos brasileiros desde então. Repórter investigativo, Joaquim de Carvalho apontou todos os furos do episódio usado por Jair Bolsonaro para, de acordo com documentário da TV 247, fugir dos debates em 2018.
O jornalista responsável e seu documentário não afirmam que a facada é uma farsa: mas levanta inconsistências e contradições profundas na investigação da Polícia Federal. O documentário mostra um caminho completamente diferente da versão oficial e apresenta sólidos argumentos para isso. (veja o documentário abaixo). Em contato com o jornalista Joaquim de Carvalho, ele respondeu à coluna (Radar ND1) algumas questões que acabam sendo pertinentes após tanta repercussão. Confira abaixo!
Repórter do Brasil 247 fala ao ND1
Radar ND1 - Quando o senhor decidiu fazer o documentário sobre a facada, o senhor como experiente jornalista que é, esperava uma repercussão tão grande quanto acabou ocorrendo?
Joaquim: Decidimos fazer o documentário, o Leonardo Attuch e eu, quando Bolsonaro, mais uma vez, tentou politizar o episódio de Juiz de Fora, ao responsabilizar indiretamente o PSOL e o PT pelo ocorrido. Achamos que a história tinha que ser contada, ainda que confirmasse a versão oficial. Foi uma apuração muito difícil e vi que os fatos narrados na versão oficial eram inconsistentes. Sobre a repercussão, sabia que haveria, mas talvez não nessa proporção. Os fatos relatados são graves.
Radar ND1 - A grande imprensa acabou atacando o documentário e o senhor, veículos até do mesmo campo também. Na sua opinião, a que se deve esse fato?
Joaquim: Infelizmente, a imprensa comercial, que eu chamo de velha imprensa, tem hoje múltiplos interesses, e a cobertura jornalística atende a esses interesses. Os jornais são hoje veículos ideológicos, a serviço de um projeto neoliberal. A Folha de S. Paulo, por exemplo, pertence a um grupo que tem em um banco sua principal fonte de receita. Os jornais foram escancaradamente corrompidos.
Radar ND1 - Pelo visto vem aí a parte dois do documentário, se o senhor confirmar, qual a expectativa de abordagem dessa parte dois, se o senhor puder dar uma prévia, é claro. Existe alguma expectativa de quanto tempo ele deve demorar para começar a ser produzido?
Joaquim: Vamos continuar apurando o caso de Juiz de Fora num projeto mais abrangente: vamos mostrar o esquema de fake news que levou Jair Bolsonaro à Presidência da República. Para isso, lançamos um novo projeto de crowdfunding (a vaquinha virtual). Quem quiser e puder colaborar, deixo aqui o link: https://www.catarse.me/fakeadas.
Financiamento coletivo parte 2 do documentário
Até a publicação deste artigo, a campanha de financiamento do 247 tinha arrecadado exatos: R$ 47.546 e contava com 942 apoiadores no site Catarse, em 13 dias de campanha iniciada na plataforma, atingindo por tanto, 59% da meta de arrecadação estipulada em R$ 80.000,00 pela Editora Brasil 247, controladora do site e do canal no Youtube.
Radar ND1 - O senhor acha que com o alcance enorme que o documentário teve, isso pode implicar, quem sabe uma reabertura do caso — ou pelo menos um antidoto — para que o cenário de 2022 não seja um novo 2018?
Joaquim: Entendo que a reabertura do caso, para investigar a hipótese plausível do auto-atentado é uma necessidade. Esse caso precisa ser passado a limpo, para que não reste nenhuma dúvida. É falsa a narrativa de que Adélio era um militante de esquerda que tentou eliminar um adversário. Adélio promovia bandeiras bolsonaristas em sua rede social.
Ponderações necessárias sobre o documentário
Eu gostaria de fazer uma reflexão sobre o mencionado documentário e a imprensa tradicional, e até a alternativa, que na minha analise, e é esse o sentido dessa coluna, analises políticas. Na alternativa, quase todas, tinham à desconfiança de que a facada poderia, eu disse: 'poderia' ser algo montado em um esquema para promover a eleição de Bolsonaro, a própria Joice Hasselmann, numa entrevista revelou ao DCM, que Bolsonaro disse a ela 10 ou 15 dias antes do suposto atentado perpetrado por Adélio Bispo de Oliveira: “Se eu tomasse uma facada, ganhava a eleição”.
Eu mesmo já li e vi isto sendo debatido em outros veículos que não o 247. O que faltou foi coragem e envergadura para mexer num vespeiro, vespeiro esse que a mídia tradicional e até grades conglomerados nascidos no vale do silício dão às cartas. Na minha opinião, Joaquim e Attuch correram um sério risco de ter o canal no youtube suspenso e ter tido algum tipo de restrição legal no site Brasil 247, sob a desculpa de propagação de fake-news, porque ousaram desafiar a versão oficial comprada pela grande mídia, sendo a tese da 'falsa facada' considera pelos meios tradicionais uma 'fake news'. Jornalismo se faz com coragem e ousadia, e temos que reconhecer isso na produção do 247.
Ainda bem que o profissionalismo do repórter que comandou o documentário fez toda diferença nesse processo, mas o risco foi grande! Restou à mídia tradicional, tentar desqualificar a produção, que ao meu ver fica desmoralizada, principalmente se novas investigações forem feitas: imaginem como ficaria a imagem desse grupo com estrutura bilionária, que esperou um veículo de mídia alternativa — nesse caso o 247 — que com seu publico, em campanha de financiamento coletivo acabou por mostrar os óbvios furos na história oficial. Parabéns Joaquim de Carvalho e Leonardo Attuch pela coragem e ousadia. Parabéns TV e site Brasil 247.
► Assista ao Documentário da TV 247 sobre a Facada em Jair Bolsonaro Aqui!
Quem é Joaquim de Carvalho
Atualmente é Repórter Investigativo e Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, DCM, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa).
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(*) Este artigo não representa a opinião do ND1 e é de total responsabilidade do colunista.