A família do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e delator da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, relatou à Polícia Federal (PF) que advogados ligados ao ex-presidente tentaram contatá-los para persuadir uma troca de defesa.
Gabriela Cid, esposa de Mauro Cid, afirmou em depoimento que Fábio Wajngarten, ex-advogado de Bolsonaro, a telefonou "diversas vezes" entre agosto e setembro de 2023. Ela inicialmente ignorou as chamadas, mas atendeu após sua filha ser "alvo de ligações constantes e insistentes por parte dele". Segundo Gabriela, Wajngarten tentava "persuadir" a família a fazer com que Mauro Cid trocasse de advogado no inquérito. "Nessa oportunidade, fiz uma gravação em vídeo da ligação onde ele tenta me persuadir a trocar de advogado", detalhou. Na época, Wajngarten atuava na defesa de Bolsonaro, mas deixou a equipe em julho do ano passado.
As ligações, conforme a esposa, teriam começado após o tenente-coronel decidir mudar sua defesa para Cezar Bitencourt, advogado que posteriormente articulou um acordo de colaboração premiada com a PF para Cid.
A mãe do delator, Agnes Barbosa Cid, também depôs à PF e disse ter sido procurada em três ocasiões, entre agosto e dezembro de 2023, pelo advogado Eduardo Kuntz, defensor de Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro.
Agnes Cid relatou que Kuntz foi sozinho à Hípica, em São Paulo, onde sua neta competia, na primeira e terceira vezes. Na segunda ocasião, Kuntz estava acompanhado de Paulo Bueno, advogado de Jair Bolsonaro. "Essas tentativas de aproximação eram muito constrangedoras, porque eu sabia o que eles queriam, basicamente, que trocássemos de advogados e que fossem todos ligados a uma única defesa", afirmou a mãe de Cid.
Indícios de Obstrução de Investigação
Diante dos depoimentos e documentos apresentados pela defesa de Mauro Cid, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontou indícios de que advogados de Bolsonaro podem ter tentado obstruir a investigação sobre o golpe de Estado.
Moraes determinou que Fábio Wajngarten e Paulo Costa Bueno sejam ouvidos pela Polícia Federal em até cinco dias. Essa medida foi tomada após a defesa de Mauro Cid entregar uma série de documentos à PF, buscando contestar informações prestadas por Eduardo Kuntz, advogado do coronel Marcelo Câmara – este último já preso por tentar atrapalhar a investigação.
Kuntz havia informado ao STF que foi ele o interlocutor de Cid em uma série de mensagens trocadas em redes sociais e divulgadas pela revista Veja. Desde então, Kuntz passou a ser investigado por obstrução.