A manhã desta terça-feira (3 de junho de 2025) transformou-se em um cenário de pânico para o carpinteiro Manoel Américo da Silva, de 60 anos, e seu amigo Valdemir Pedro da Cruz, de 57. Enquanto se deslocavam de Jacarepaguá para o trabalho em Nova Iguaçu, o ônibus da linha 422 em que estavam foi atingido por tiros durante uma megaoperação da Polícia Civil no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio. Manoel foi ferido no ombro esquerdo, e Valdemir, por estilhaços no braço direito. Apesar do caos e do desespero dos passageiros, o motorista do ônibus seguiu diretamente para o Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI). Manoel passa por cirurgia de urgência e seu estado de saúde é estável, conforme divulgado pela direção do hospital.
A família, chocada com a notícia que receberam do próprio Manoel, aguarda por novidades. "Meu pai me ligou nervoso dizendo que tinha sido baleado. Fiquei desesperada e corri para encontrá-lo no hospital. Não imaginava que algo assim poderia acontecer com ele. Quando me ligou, dava para ouvir os gritos de desespero das pessoas que também estavam no ônibus. Deus guardou a vida dele", contou Priscila, filha de Manoel.
Valdemir, que teve ferimentos leves, relatou que o ônibus pegou a linha 422 (Centro x Cabuçu) na altura da Fiocruz. O destino era Nova Iguaçu. No entanto, ao se deparar com a Avenida Brasil fechada na altura da Cidade Alta devido à operação policial, o motorista decidiu desviar pela Linha Vermelha para acessar a Dutra. Foi nesse momento que os tiros atingiram o coletivo. "Foi desesperador. Eu estava sentado na cadeira do outro lado do corredor. Quando a gente ouviu os tiros, todo mundo se jogou no chão. Nessa hora, o Manoel começou a gritar que tinha sido baleado. Ele estava coberto de sangue. O motorista não parou o ônibus. Ele seguiu até parar na porta do hospital. Eu caí no chão, mas no desespero, as pessoas passaram por cima de mim e meu braço ficou preso no vidro.
A adrenalina era tanta que eu não senti dor. Eu só queria salvar o meu amigo. Não queria perdê-lo. Não era a hora dele. Deus guardou a gente", descreveu Valdemir, emocionado. O carpinteiro contou que o ônibus estava lotado e que, no momento dos tiros, o pânico tomou conta, com muitas pessoas tentando pular do veículo em movimento. "O medo já virou rotina. A gente fica com medo porque vê isso acontecer com outras pessoas, mas pensa que nunca vai acontecer com a gente. Vi meu amigo ser baleado no ônibus a caminho do trabalho. Isso jamais pode ser normalizado. O que mais vai precisar acontecer para as autoridades fazerem alguma coisa?", questionou Valdemir.
Em outro ônibus, um motorista também foi baleado, aparentemente no braço direito. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o profissional deitado no chão, ao lado do coletivo, sendo ajudado por um motociclista e outra pessoa. O homem que gravou a cena, deitado em frente ao ônibus, diz que tirou a camisa para estancar o sangue.
Nas primeiras horas da manhã, mais de 50 linhas de ônibus foram desviadas para evitar as áreas de confronto. A Semove lamentou o episódio de violência e informou que dois ônibus atingidos são da empresa Evanil (linhas 442B e 405T). Um terceiro ônibus, da Linave Transporte (linha 420T), foi alvejado por diversos tiros, resultando em vidros e lataria perfurados, mas sem feridos. A instituição reforçou que colabora com as autoridades de segurança e pediu a ajuda da população na identificação dos criminosos, solicitando que informações sejam encaminhadas ao Disque Denúncia (21 2253-1177).
O Bom Dia Rio, da TV Globo, informou que ao menos um carro de passeio também foi atingido no intenso tiroteio. No momento, a Avenida Brasil e a Linha Vermelha estão liberadas ao tráfego nos dois sentidos, mas as autoridades alertam para a possibilidade de novos bloqueios.