A Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos realizou uma importante diligência no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com o auxílio de peritos especializados. O objetivo da ação é encontrar informações e materiais que possibilitem a localização e identificação de pessoas sepultadas sem identificação, vítimas da ditadura militar.
Mais de 2 mil indivíduos foram enterrados como indigentes nos primeiros anos da década de 1970, em uma área específica do cemitério conhecida como "quadra 23". Até recentemente, o trabalho de identificação se baseava apenas em registros oficiais de Institutos Médicos Legais e do próprio cemitério. Contudo, a nova fase das investigações incorpora a busca por materiais genéticos, com a expectativa de que o avanço tecnológico permita a identificação dos corpos. "Esses remanescentes foram localizados nos anos 90 e, na época, se verificou que não tinha condições técnicas de fazer exames de DNA.
E são muitos, né? Com o avanço da tecnologia, a gente acha que vai poder fazer alguma proposta de identificação", afirmou Eugênia Augusta Gonzaga, presidente da Comissão.
Homenagem e Luta por Memória: Familiares Clamam por Respostas
Na manhã desta quarta-feira, o memorial em homenagem aos desaparecidos, inaugurado em 2011 no cemitério, recebeu novas placas com os nomes dos 15 políticos que constam nos registros do local. A pesquisa e o trabalho de busca por essas vítimas começaram nos anos 90, com o grupo Tortura Nunca Mais.
"Que realmente este local aqui não seja mais depredado, não seja mais abandonado como ele estava e que a gente possa transformar realmente isso aqui num centro de memória", afirmou Cecília Coimbra, representante do Tortura Nunca Mais, reforçando a importância de preservar a memória e a história.
Um dos nomes citados no memorial é o de Joel Vasconcelos Santos, cujo corpo foi encontrado no local em 2014. Familiares de vítimas acompanharam os trabalhos com a esperança de encontrar respostas. Entre eles, estava a família de Ramires Maranhão do Valle, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, desaparecido desde outubro de 1973. Um sobrinho, que recebeu o mesmo nome em homenagem, expressou a dor de uma busca que atravessa gerações: "Não cheguei a conhecê-lo pessoalmente, né, mas é uma história que eu acompanho desde o meu nascimento. Já vi meu avô falecendo, sem conseguir descobrir o paradeiro, as circunstâncias da morte do meu tio", relatou Ramires Beltrão.