A movimentação política do ex-ministro Ciro Gomes durante um café da manhã com parlamentares da oposição, nesta terça-feira (6), acendeu um alerta nos bastidores da Assembleia Legislativa do Ceará — e não por acaso. O encontro, discreto na forma, teve efeitos ruidosos no conteúdo. Ciro não apenas apareceu, como sinalizou, com clareza incomum, que está em campo. E, talvez mais relevante: que está disposto a rever rotas partidárias.
Segundo relatos de deputados presentes, Ciro chegou a telefonar, ali mesmo, para aliados do PDT, mencionando abertamente a hipótese de disputar o Governo do Estado. Mais do que um blefe, a conversa teve o peso de um gesto simbólico: colocar seu nome no tabuleiro, mesmo que as chances reais de candidatura em 2026, neste momento, sejam tidas como improváveis. Mas a política não é feita só de probabilidades — é feita de sinais. E Ciro sabe usá-los como poucos.
Mais instigante ainda foi o trecho da conversa em que o ex-governador revelou um convite do senador Tasso Jereissati: integrar o novo partido que nascerá da fusão entre PSDB e Podemos. A menção, ainda que informal, ganha relevância à luz do cenário nacional, onde as federações e fusões partidárias estão redesenhando os blocos de poder.
Essa possível migração de Ciro do PDT para o "novo centro" não é um detalhe menor. Recoloca em debate sua relação já desgastada com o atual comando do partido — e reabre uma discussão sobre seu papel político fora da esquerda tradicional, onde tem perdido espaço desde sua última candidatura presidencial.
A oposição cearense, fragilizada e sem lideranças naturais de peso, viu na sinalização de Ciro uma possibilidade de reorganização. Ainda que a candidatura ao governo seja uma hipótese remota, a simples especulação tem efeito prático: reposiciona Ciro no radar político e reaquece articulações que estavam adormecidas.
Vale observar que Ciro movimenta-se num terreno onde discurso e ação frequentemente se confundem. Mas, diferentemente de seus movimentos anteriores, desta vez ele parece agir com cálculo estratégico. O convite de Tasso não é apenas uma ponte partidária — é uma senha para um novo eixo de atuação.
Em resumo: Ciro volta a testar as águas. Se está apenas mandando recados ou se de fato prepara uma virada de página partidária, ainda é cedo para cravar. Mas uma coisa é certa: ele voltou a fazer política. E isso, por si só, já muda o jogo no Ceará — e, potencialmente, no Brasil.