A força-tarefa ambiental é realizada por pescadores e catadores locais, que recebem uma bolsa-auxílio para atuarem na coleta durante o período do defeso do caranguejo-uçá, quando a captura, comercialização e armazenamento da espécie são proibidos. A atividade, que ocorre duas vezes por semana, representa uma importante fonte de renda alternativa para os trabalhadores, ao mesmo tempo em que contribui significativamente para a recuperação do ecossistema. Pedro Belga, consultor do Projeto Guapiaçu, idealizador da iniciativa, explica que a ideia surgiu a partir do relato de um catador de caranguejo que sofria com a poluição dos manguezais, prejudicando sua atividade. O catador Adílio Campos compartilhou que criou 11 filhos catando caranguejo, mas que a sobrevivência nessa atividade se tornou inviável devido ao acúmulo de lixo: “onde tem sofá ou pneu no mangue, não tem toca de caranguejo”. "Foi ali que eu entendi que o resíduo sólido é uma barreira física para o funcionamento do ecossistema. Desde então, a limpeza dos manguezais se tornou uma ação contínua, envolvendo comunidades e parceiros como o Projeto Guapiaçu e a ONG Guardiões do Mar.
Já retiramos de tudo do mangue: sofá, cama box, até banheiro químico. E a cada remoção, devolvemos um pedaço da natureza. Devolvemos vida", explica Belga. A metodologia da Operação LimpaOca teve sua origem no Projeto UÇÁ, desenvolvido em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental. Posteriormente, a ação foi integrada ao Projeto Guapiaçu a partir de 2022, em sua quarta fase de execução. A contratação de catadores e pescadores para a limpeza dos manguezais durante o defeso representa uma alternativa crucial de renda, considerando que muitos desses trabalhadores não têm acesso ao seguro-defeso ou enfrentam longos períodos de espera para receber o benefício. Além do impacto direto na limpeza e recuperação ambiental, o projeto possui um forte caráter educativo. Ao participarem da iniciativa, pescadores e catadores compreendem de forma prática os efeitos nocivos dos resíduos sólidos sobre o ecossistema, percebendo que os materiais carreados pelos rios e retidos na lama dos manguezais atuam como barreiras físicas, comprometendo a biodiversidade local. A remoção desse lixo favorece a regeneração ambiental, com o retorno das tocas de caranguejo e a fixação dos propágulos, estruturas reprodutivas essenciais para o crescimento de novas árvores de mangue.
Segundo o projeto, foram disponibilizadas 140 bolsas a pescadores e catadores que participaram da iniciativa em Magé. Adicionalmente à coleta de lixo, o projeto promove ações de educação ambiental junto às comunidades. Neste ano, por exemplo, os filhos dos beneficiários e outras crianças da comunidade de Magé participaram de uma atividade educativa do Projeto Guapiaçu no Parque Estadual dos Três Picos, onde tiveram a oportunidade de conhecer o jequitibá, árvore símbolo da Mata Atlântica.