O Rio de Janeiro se torna palco, nesta segunda (28) e terça-feira (29), da reunião preparatória para a aguardada cúpula dos chefes de Estado do Brics. O encontro desta semana antecede a vinda de presidentes e autoridades dos 11 países-membros e das 9 nações convidadas em julho, que debaterão temas cruciais como governança global e inclusão. Nesta etapa preparatória, a cidade recebe chanceleres e sherpas, diplomatas de alto escalão encarregados de delinear e articular os temas que serão discutidos em julho – um formato semelhante ao ocorrido no ano anterior durante o G20, também sediado no Rio. A realização do evento impacta o trânsito em diversas áreas da cidade. Na cerimônia de abertura, realizada no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio, na manhã desta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, anfitrião do encontro, enfatizou o papel fundamental do bloco na reforma de instituições multilaterais, com destaque para o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). “Enfrentamos crises globais e locais convergentes, com emergências humanitárias, conflitos armados, instabilidade política e erosão do multilateralismo. Essas crises desafiam o fundamento da paz e da segurança internacionais e exigem um compromisso renovado com a ação coletiva”, declarou o ministro Vieira. O chanceler brasileiro prosseguiu, afirmando que “os mecanismos internacionais permanecem lentos, politizados e, às vezes, paralisados diante de necessidades urgentes. Nesse papel, o Brics tem um papel vital a desempenhar no reforço dos princípios internacionais, na solução pacífica de controvérsias e na promoção de reformas das instituições multilaterais, em particular das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança, para melhor refletir as realidades geopolíticas contemporâneas”.
Em seu discurso, Mauro Vieira expressou particular preocupação com a guerra em Gaza, reafirmando a defesa do Brasil pela solução de dois Estados na região. “A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis. O colapso do cessar-fogo anunciado em 15 de janeiro é deplorável”, lamentou. O conflito na Ucrânia também foi apontado como motivo de apreensão pelo ministro.
“O conflito na Ucrânia continua a causar um pesado impacto humanitário, ressaltando a necessidade urgente de uma solução diplomática que defenda os princípios e propósitos da carta das Nações Unidas”, disse o chanceler, em uma declaração feita na presença do chanceler russo, Serguey Lavrov, que participa do encontro. No domingo, Lavrov havia declarado que a Rússia continuará atacando locais utilizados por militares ucranianos. Mauro Vieira destacou os esforços conjuntos de Brasil, China e outros aliados na busca pela paz na região.
O chanceler brasileiro também manifestou preocupação com a grave situação humanitária e de segurança no Haiti. “Devemos apoiar as autoridades haitianas e o povo haitiano em seus esforços para restaurar a ordem pública, desmantelar gangues armadas e estabelecer as condições para um desenvolvimento social e econômico duradouro”. Além disso, Vieira reiterou o apoio do Brasil a soluções diplomáticas para os conflitos no continente africano. “O Brasil está profundamente preocupado com a escalada das tensões no Sudão, na região dos Grandes Lagos e no Chifre da África. Apoiamos plenamente os esforços da União Africana e das organizações regionais africanas, das Nações Unidas e de outras instituições e países em busca de soluções políticas e diplomáticas para essas crises”. Todas as reuniões do encontro preparatório serão presididas pelo ministro Mauro Vieira. Atualmente, o Brics é composto por 11 países membros: os cinco fundadores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
O grupo também conta com diversos países parceiros, como Belarus, Bolívia, Cuba, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Paralelamente às reuniões do bloco, o ministro Mauro Vieira participa de encontros bilaterais com representantes de outros países. No domingo, ele se reuniu com Serguey Lavrov, da Rússia, para tratar de temas como comércio e a futura visita do presidente Lula ao país em maio. O ministro também já se encontrou com Abubakher Jeje Odongo, de Uganda; Maris Sangiampongsa, da Tailândia; Sugiono, da Indonésia; e Gedion Timothewos, da Etiópia. Devido à realização do encontro, a região central do Rio de Janeiro, onde se localiza o Palácio Itamaraty, e bairros como Botafogo, Copacabana, Leme e Ipanema estão sujeitos a restrições de trânsito, incluindo interdições parciais, bloqueios e proibição de estacionamento em diversas vias. As interdições e proibições de estacionamento detalhadas podem ser consultadas abaixo.