A facção Terceiro Comando Puro (TCP) operava um banco clandestino no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, para lavar dinheiro de extorsão de empresários e do tráfico de drogas. Em seis meses, a movimentação financeira atingiu a marca de R$ 43 milhões.
O Esquema Criminso
A estrutura funcionava como uma instituição financeira paralela, garantindo liquidez à facção e financiando a compra de armas e drogas. O TCP criou um sistema bancário para gerenciar valores ilícitos, utilizando loterias, empresas de fachada e contas de laranjas para movimentar dinheiro sem levantar suspeitas das autoridades.
Cooptação de Empresário
Um empresário do setor de internet, que inicialmente era vítima de extorsão, passou a integrar o esquema. Ele passou a cortar cabos da concorrência para monopolizar o serviço e garantir que apenas sua empresa operasse na região. "O empresário deixa de ser vítima e se associa ao crime, formando uma sociedade com o TCP", explicou o delegado Alan Moreno de Andrade, coordenador do Centro de Inteligência e Análise Telemática da Polícia Civil do Espírito Santo.
Fluxo do Dinheiro
O dinheiro arrecadado no Espírito Santo era enviado ao Banco Paralelo na Maré, onde era convertido em liquidez para financiar a facção. Parte dos valores retornava ao Espírito Santo na forma de armas e drogas, fortalecendo o domínio do TCP na região. "Esse dinheiro saía do Espírito Santo e ia para o Rio de Janeiro, onde era usado para comprar mais armas, mais drogas, imóveis e veículos de luxo, sustentando o alto padrão de vida dos criminosos", detalhou Alan de Andrade.
Impacto na Economia Local
O esquema também afetava a economia local. O desvio de dinheiro para a facção impactava comércios e empresas que não conseguiam competir, além de retirar recursos do Espírito Santo para financiar o crime no Rio de Janeiro. "Nós conseguimos identificar movimentações de até R$ 10 mil mensais pagos por empresários extorquidos via PIX. Isso garantiu a continuidade das operações criminosas e a expansão da facção", afirmou Gianordolli.
Desmantelamento do Banco
A operação "Conexão Perdida", conduzida pela Polícia Civil do Espírito Santo, identificou e desmantelou parte do esquema. Foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão, bloqueadas 17 contas bancárias e apreendidos veículos e documentos financeiros. No Complexo da Maré, os agentes encontraram notas fiscais falsas, registros de depósitos e anotações contábeis detalhadas, além de máquinas de contar dinheiro e celulares utilizados para transações financeiras.
Investigações Contínuas
Segundo a polícia, o TCP possuía diversas células operando sistemas bancários paralelos, o que exige investigações contínuas para enfraquecer a estrutura do crime organizado. Os R$ 43 milhões movimentados em seis meses indicam que o banco não atendia apenas os criminosos do Espírito Santo, mas toda a estrutura do TCP na Maré, impactando não só os traficantes locais, mas também os do Rio de Janeiro.Romualdo Gianordolli Neto