Violência Obstétrica: Uma Realidade Cruel para Mães Cariocas
O parto deveria ser um momento de alegria e esperança para toda mulher. No entanto, para muitas mães no Rio de Janeiro, essa experiência se transforma em um trauma terrível. Relatos frequentes de violência obstétrica, caracterizada por desumanização, preconceito e negligência por parte dos profissionais de saúde, expõem a dura realidade enfrentada por mulheres durante o parto na cidade.
Dados Alarmes: Desigualdade e Sofrimento Amplificados
Uma pesquisa recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que mulheres negras e pobres têm maior risco de sofrer violência obstétrica. Entre os dados alarmantes, destaca-se a chance duas vezes maior de mulheres negras serem vítimas em comparação com mulheres brancas. Adolescentes, maiores de 35 anos, usuárias do SUS e com baixa escolaridade também figuram no grupo de maior risco.
"Não Vou Fazer Parto de Cesariana em Negro, Índio e Nordestino"
Norma Maria de Souza é um dos exemplos brutais dessa violência. Durante o trabalho de parto, ela foi confrontada por uma médica com a frase: "não vou fazer parto de cesariana em negro, índio e nordestino". Norma relata ter sofrido todo tipo de negligência e abuso, incluindo a imposição de parto normal por ser negra.
Falta de Informação e Dificuldade no Reconhecimento
A falta de conhecimento sobre seus direitos e a naturalização de certas práticas contribuem para a dificuldade que muitas mulheres têm em identificar a violência obstétrica. "É mais difícil para certos grupos da população saber que estão sendo vítimas", afirma Larissa Velasquez, doutora em História das Ciências e da Saúde.
Ausência de Leis e Dificuldades na Denúncia
Apesar da gravidade do problema, o Brasil ainda não possui lei específica para tipificar e punir a violência obstétrica. No Rio de Janeiro, um projeto de lei tramita na Assembleia Legislativa desde 2019, mas ainda não foi votado. A Prefeitura do Rio disponibiliza um canal para denúncias (1746), mas o número de notificações ainda é baixo (apenas 46 até hoje).
"A Sensação de Desdém, de 'Para de Frescura'"
Mayara Gonçalves, psicóloga, relata ter sido ignorada e humilhada durante o parto, quando pedia uma cesariana por causa da dor intensa. "Não me senti acolhida por nenhum profissional da saúde", afirma. Segundo a pesquisadora Larissa Velasquez, a violência obstétrica se manifesta de diferentes formas em ambientes públicos e privados.
Manobra de Kristeller: Uma Prática Condenada
Verônica Montenegro da Silva vivenciou a aplicação da Manobra de Kristeller, uma técnica contraindicada pelo Ministério da Saúde e OMS por seus riscos à saúde da mãe e do bebê. "O médico na época falou: 'A sua força e nada é a mesma coisa'. Foi quando meu mundo acabou", relata Verônica, que só soube que havia sofrido violência obstétrica anos depois.
Episiotomia: Uma Prática Desnecessária e Prejudicial
Dados da pesquisa indicam que 56% das mulheres no estudo sofreram episiotomia, um corte no períneo durante o parto. Essa prática, considerada inadequada e prejudicial à saúde da mulher, ainda é comum em maternidades.
45% das Mulheres Vítimas de Violência Obstétrica
A pesquisa da Fiocruz revela que 45% das mulheres entrevistadas sofreram pelo menos um tipo de violência obstétrica durante o parto, incluindo violência física, psicológica, falta de informação, comunicação precária e perda de autonomia.
Luta por Justiça e Humanização no Parto
Apesar da dor e do trauma, mulheres como Norma, Mayara e Verônica lutam por justiça e por um parto mais humanizado. Elas defendem o fim da violência obstétrica e a garantia dos direitos das mulheres durante a gestação e o parto.
A sociedade civil e os profissionais de saúde também têm um papel crucial na mudança dessa realidade. É necessário promover o debate sobre a violência obstétrica, conscientizar as mulheres sobre seus direitos e exigir que os profissionais de saúde ofereçam um atendimento digno e humanizado.